domingo, 28 de novembro de 2010

Quando transborda



Eu vou desfranzindo a testa aos poucos, onde ficam rugas, essas linhas marcadas pela tensão. Agora já passou, você me diz calmo, sereno. Meu corpo vai deixando de ser atento, vai tomando novamente minha forma, vai voltando a ser e somente ser, o que não exige nenhuma prévia, ser não dispõe de planos pois ou se é ou não é. Sinto cada parte voltando para o lugar, cada palavra desgrudando de mim, como escamas de pele velha. É um alívio difícil esse pousar em si. Eu estou crua. As vezes dá um certo medo me ver despida, imaginando o que vão pensar de mim em tom cor-de-pele.
- Deixa eu me misturar em você, e eu deixo. A pele dele vermelho-sem-vergonha diz que gosta de mim, as mãos encontrando meu arrepio me dizem “eu só vou mais até ali” e a cada palavra, cada gesto dele, uma vontade quase inconsciente, na verdade urgente de dizer: "eu te amo", e não tem nada a ver com saber amar e sequer parece com qualquer “eu te amo” já dito no mundo. Sai da boca fazendo cócegas essas duas palavras pequenas, desconhecidas, como a lembrança de um rosto e o esquecimento do nome. Quanto mais distraída da minha nudez, mais nua eu fico e quanto mais nua, mais sensível ao toque e “eu te amo” é o riso da cócega mais incontrolável.
- O que você disse?
- Desculpe, é que eu senti em voz alta.

5 comentários:

  1. eu tô falando....gosto de suas palavras, elas arrepiam, tem ali sentido-sentir, sabe? gostei muito desse post, muito mesmo.

    quanto a beatriz, bom, ela está ali...quem sabe ela não se manifesta um dia no corpo de outro alguém....

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  2. e obrigado sempre pela visita, palavras e sentir.

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  3. Eu sinto em voz alta. E arrepia cada palavra tua.

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  4. isso quase acotneceu aqui.
    lindo lindo lindo

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  5. três, para dar mais asas a imaginação...

    obrigado sempre pelas visitas e palavras.

    beijos.

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