quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Loucura

olha para um lado, para o outro. Nada. até que, na dobra da esquina, aqueles olhos pretos brilhantes. Estavam soltos, para quem quisesse ver e ela viu, confirmando para "os outros" uma fatal loucura - coitada. Foi como quando era criança e via rostos que se formavam na parede descascada - eu não sei, é a minha imaginação, eu me apego ao que imagino, ela pensava tentando se justificar para o mundo como apenas alguém confuso. Os fundos brilhosos que chamavam, convidativos. Ela os encarava. E aí? Nada. A vida indo. Para, pensa um pouco sobre a forma dos olhos que, ainda que inalcançáveis, continuam sendo o-lhos pre-tos bri-lhan-tes - Isso é loucura, já querendo se render a uma desgraça, ela, desgraçada. Mas isso não parava. Então, escrevendo, pensava no desenho das palavras, afinal: "aflição" é uma quase-aflição, ou "toque" é precedente do crime de querer sentir, ou ainda, o desenho linha-a-linha da palavra "arrepio", "desespero" confirmando a "aflição" e até sentimentos não escritos - entrelinhas lidas por quem tivesse coragem de imaginar. Por fim, o "gozo", aqui, real.

Eu não sou louca.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

6 meses antes

Estou parada numa nave de parafernálias, tão metálicas que eu não sinto.

Estou viajando em configurações, painéis dourados que é a cor do passado e agora será amanhã, porque o relógio corre.

Espero ansiosa cair, porque só aí que vai ser um barato indescritível cheio de palavras, conexões que eu imagino se formarão no ar.

Por enquanto é só fluxo de partículas, operações de sistemas e a engrenagem enferrujada dos astros.






sexta-feira, 21 de março de 2014

Rótulo, frente e verso



Marina é enjoada demais, não vai gostar do filme. João é desligado, não vai reparar no texto que enviei pra ele, que é sobre nós dois. Vai me encontrar dizendo apenas “legal o texto” ou “não sei, falta alguma coisa”. Isabel é tão decidida, se a gente convidar todo mundo pra um reencontro, tenho certeza que ela ainda vai discursar horas sobre os planos e planilha pra vida dela, para os próximos 20 anos. Jorge é tão criativo, aposto que não tem problemas no trabalho e está numa super bem sucedido. Ele é fechado, não se expressa, não fala sobre si mesmo, é do tipo de pessoa que nem chora. Felipe tem sempre o mesmo papo, quando ele vai no bar, é a mesma coisa, ele é cansativo demais.

Marina gostou do filme, que era meio esquisitão, na certa foi por isso que ela gostou. Daí encontramos o João, que estava com a barba cortada e cheirosa e me chamou para um chopp, que eu estava “devendo”e convidou a Marina também, gentil. Antes de ir ele disse “ah, legal o texto heim, depois vou responder o email”. Mas ele não vai responder, porque é desligado.


Publicado em: http://www.graodefato.com.br/mayaraalmeida/rotulo-frente-e-verso/

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Círculo

e ao mesmo tempo que ao escrever sou pessoal ou simplesmente, por motivos óbvios, grudada a isso estou, quero por clemência e desespero, correr para o outro lado e me distanciar dessa coisa da proximidade.

mas eu juro que é tudo para tudo
e sobre tudo,
o todo
e uma fagulha
eu

(Aproveito para fazer um convite para quem lê esse espaço, agora estou e mais outros amigos em: http://www.graodefato.com.br/ )

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Graça divina

nossas pausas são humanas
nossas carnes
comestíveis
por asquerosas espécies das quais fugimos
como as vezes nos vulgarizamos,
ainda não entendo bem
mas sempre como um sonho
voltamos pra ele
graças a deus dormimos

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Pedagogia sentimental

Já havia feito reparações quanto a um ou outro aspecto de seu próprio comportamento e a conduta dele foi digna dos olhos dela brilharem. E quando os olhos de uma moça brilham, é porque atingiu-se o auge do mais auto ponto de satisfação. Um gozo tal que não ocorre toda vez. As palavras do rapaz eram certas, dentre o vocabulário com tantas possibilidades de erro. A forma como se doa, terminando as frases com um sorriso e um olhar de homem que inebriam, deixando-a até tonta de seus sentidos enquanto mulher. Levando a um estado de deleite no qual ficam os dois, por minutos, completamente a parte do mundo.
Ela pensa sobre a disparidade do se tratar, a salvo antes de mais nada por um sentimento essencialmente bom para com o outro, que entre eles independe de seus piores defeitos. Mas ainda que os espaços para seu lado "escuro" agora sejam espremidos pela consciência adquirida e dela própria se condenar por deixar que escape, quando tudo se restabelece três vezes claro e evidente, as razões enfim retornam de seu planar, ela procura algum tipo de fuga, para que possa transformar em perpétuo o que se chama de momento. Deixar aqueles instantes bem quietos ali, sem perigo de estragar ou borrar nada. Pois em todas as vezes que a temível felicidade veio sutil ou não sutil, mas que a tenha respirado por longos instantes, procurar por algo que fosse o contrário, era a única forma que conhecia de não sufocar e de viver os minutos tão bonitos a que lhe foi proporcionado.
Ela anseia por uma inteligência mais sofisticada e não mais essa "exótica" forma de pensar e agir, tão deselegante as vezes. A fineza da inteligência lhe parece admirável. Foram muitos arranhões até que sua pretensão enfim tomasse conta de certas questões, antes equivocadas, como por exemplo sobre o controle para domar seu ímpeto. Pois só agora entende que não há problema nos sentidos, na sua tontura, nos medos ou na loucura, o que existe é a forma de lidar e essa é o que te leva a ter sucesso ou terminar saltando sem para-quedas em queda livre, uma atitude que não deixa de ser libertadora, porém um desastre. É possível que seus monstros sejam educados, sentem à mesa, comam de garfo e faca, peçam "desculpa", "licença" e "obrigada", sem ser preciso escondê-los, sem negar sua existência, até que deixem de ser monstros para ser liberdade. É o homem ensinando, mesmo sem saber que ensina, ela a ser mulher.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

A hora do mundo

Estou nessa imobilidade,
tudo bem

as vezes se está aqui,
ali

não estou me sentindo incomodado
respiro muito bem

com todas as coisas que sei e que me esperam
o mundo me esperar não tem feito mal nenhum

Hoje, não sei porque
me sentei no mundo e não com o mundo

tendo aceito
a condição

e se por acaso chorar
será por ser uma pessoa

sexta-feira, 26 de abril de 2013

De Abril a Abril


A vida inteira
numa extensão de ar
do que não se vê
e como pode
agarra com a mão
come
bagunça os cabelos
é fluido
calado
agitado
viveria feliz só de vento

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Como se é, não tem meio nem fim, é história

Lá se vão caminhando os atores
em garagens
elevadores
longe
lugar que nem se encontra
quando vai
é laboratório
lá se vai
e está
ao lado
todos respirando
todos de verdade
lá se vai a minha atriz
fica o personagem
é uma separação tão triste que teve até enterro
"lá" de nunca mais
de sempre vai estar
e o que me resta se não ser de verdade
coração partido
sangrando
dentro dos olhos
lá dentro
esquece maria
é drama o que essa menina tem
nessa hora todos vão pra sala
todos com seu corpo
a que fazer rir
a que contar uma história de minas
há de ser
é
todos são

segunda-feira, 11 de março de 2013

Incorrigível

Os dias foram só dias, enquanto o resultado deles em mim um marco, me fazendo chorar pelo desamparo que é não vir a tê-los mais. Resta saber, se tão desimportante me era, qual das partes tocou, as pequenas horas que me tiveram inteira, atenta? e então resolver as questões quanto a emotividade causada por esse fim que como todos me acaba um pouco. Aqui jaz sensível,

com o que mais vier e sempre. 

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Dor de iniciante


Não me sinto inteligente nesse ponto. Talvez em outro. Não sei dizer qual. Mas me veio a cabeça umas coisas que, parada com cara de pensativa, me pareceu uma revelação importante, dessas que pessoas inteligentes devem ter com freqüência, mais intensa do que a minha ralentada percepção do mundo ou “meu mundo”.
É quase fisiológica a maneira de pensar, digo na minha humilde e rara “revelação”. O pensamento é como o trajeto do sangue no corpo, um caminho acostumado que faz uma fenda, essas vias chamadas de veias. Sempre passando por aquele mesmo lugar, cada vez mais marcado, viciado. Acho que é isso que dizem, que o ser humano só usa dez por cento do cérebro e disso eu posso falar. Como agora, ao ter essa, "iluminação", que na verdade não passa de alguns minutos com cara de paisagem olhando pro nada, pensei no quanto não vejo, não entendo, não dou atenção, em quantas coisas devo ignorar a existência e portanto fazer inexistentes noventa por cento delas, simplesmente. Quantas vezes devo sofrer por invenções minhas, egoísmos vestidos de verdade, verdades vestidas com peças únicas e exclusivas. Sofro, (e essa parte é preferível que quem esteja lendo interprete como mera invenção de texto fictício), de ciúme, de inconformidade, irritação e ansiedade. E ando desconfiando que em quase todas as vezes isso tenha causa mentirosa, dessas de auto-sabotagem, culpa de um pensamento vicioso. É tentador pensar pelo mesmo caminho que se está acostumado, pelas veias dos defeitos e medos, por isso me parece que tem um fundo de verdade minha teoria, que eu esteja mesmo sofrendo por conta de uma nebulosa nascida e criada por mim mesma, sou mãe da minha própria confusão. E como toda mãe, em algum momento teria que me sentir culpada, pensar “onde foi que eu errei?”. Apesar de ser (e estar) propensa a enlouquecer, me ocorre aceitar essa dose forte de consciência e finalmente ficar tranqüila, não dramatizar ou me esgotar em mil palavras, apenas sorrir, correr pra bem longe largar tudo chorar doer...de novo os dez por cento.
A vida me dá fatos e eu rapidamente, ainda que sem eles, agarro minhas interpretações, ah essa minha euforia a frente de qualquer outra coisa que venha a ter. Não perco nenhuma viagem, não dispenso nenhum dos meus pensamentos ou me agarro na minha zona de conforto digamos do mesmo jeito que me sinto segura na minha cama cheirosa e gostosa, porque eu tô no mundo pela primeira vez e tudo é último.


Ritmo: Fake Plastic Trees - Radiohead


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Terra de gigantes

se são olhos
e se te engolem
e mastigam
acrescentam
mas como em montes
os excessos
agoniam
desconcentram
se são olhos
estou fuzilada
pois se não forem
sou tão pequena

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Entre bobagens e nem tão bobagens, bobagem

...fico pensando que você podia me contar mais da sua vida, a minha anda tão sem chance. Me dá a oportunidade de saber de você e assim a gente evita tanto tempo perdido com besteira inútil - pra mim é tão sério e irritante não saber como você viveu esses anos todos sem mim (um pouco de ego, mas acho que nem é o caso). A que estou dando importância? Enquanto eu piro você está com seus olhos atentos focados no minuto atual, em outras palavras, é um atento distraído, sem lembrar da última briga, me ligando e dizendo estar com saudades. Vou segurando todos os meu hormônios: o da loucura, do desejo, da paranóia ambulante, do "rever conversas", ansiedade, delírio e o da súbita tranquilidade ou "o hormônio zen", zen me importar com nada (nem com o mau gosto de um trocadilho, dane-se o trocadilho). Pontinhos de hormônios formando meu rosto, meu corpo inteiro com receio dessa vulnerabilidade que é um relacionamento.







segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ensaio geral

"o mundo me expulsou para o próprio mundo" CL

Tento arregalar os o olhos. Mais um pouco...o que mexe mais com meu ponto de prazer com a vida? As tentativas não são nada mais do que a imprecisão quanto a o que fazer da vida. Eu tento sustentar meus ideais mas eles esbarram com a grande, alerta e dura, vida. Tento apenas respirar mas já não há tempo para a paz. Tento estar ao lado de pessoas que gosto mas...todos na mesma, como baratas tontas também tentando entender a própria tontura. Sobra pouco espaço pra sentir que existe e que isso te pertence pois na maioria das horas existir é apenas um fluxo. Curioso é fazer parte disso e me incomodar. Então desponto em raivas e calmas repentinas, me alegro e demoro a aceitar aquilo que é bom sem me pedir nada em troca - mesmo sendo o amor a coisa que mais acredito valer a pena. As vezes me firo propositalmente, as vezes o faço com quem eu jamais...puro descuido de quem "está tentando entender", o que não se redime por justificativa.
(Me acalmo, vigilante, em dizer dentro de mim que a gente se olha como quem se vê e se entende como entre dois sexos diferentes porém ambos regidos por marte, elemento fogo, arianos convictos.)
O "fluxo" tem me dado a ideia de ter que me fazer peça moldada para essa engrenagem, enquanto eu só quero viver. Na angústia, suplico: livrai-me de toda a artificialidade gratuita, de toda a conclusão barata, de toda a mão que fecha a porta, entretanto, de todo o ingênuo ingresso, que me faz boba de mim mesma. Me ajuda a (poder) viver.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Tudo sob controle


Por vezes transbordo, passo da conta de mim, ou simplesmente deixo que meus anseios vivam sem limites. A verdade é que sou péssima com organização. Organizadora das minhas coisas, de mim, do que eu quero e do que passo a deixar de querer, sou totalmente sem jeito. E quando tento, é de modo tão precário, dó de mim. 
Procuro ter força, me esforço na humilde malandragem, tento me adivinhar e o mundo, falho de novo. É que tenho muitas partes ingenuas em mim, sobretudo quanto a o que fazer da vida, só me resta viver com as minhas armas, minhas "descobertas" tão ingenuas quanto as minhas não-descobertas.  
No fim das contas resta essa preguicinha (que não é bem preguiça), essa tranquilidade de ver as coisas da rede, porque no fundo, tudo em mim parte desse ponto de vista. Eu só simplesmente não sei até que ponto é boa a ansiedade que tenho antes mesmo de me preocupar com a minha saúde, com o que ela me causa ou a despreocupação de ir levando tudo numa boa. Mas é pra rede que sempre volto depois de ficar tentando ser gente grande. Nem de todas as arestas a gente consegue tomar conta, mesmo que sejam as próprias arestas.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Paipilas auditivas


Meu silêncio que percorre ruas
Que esbarra em alguma coisa sempre
Se desmantela em burburinhos
Se desestabiliza e se arrepende
Meu silêncio tem um amor fiel ao som
Anda por aí, ouve música
Ele é tão silêncio
Tão meu
que eu juro
Inteiramente
Que são meus olhos
Que nele vomito ou guardo
Se resguarda e segue clichê
Meu silêncio é o que eu escuto
É, talvez, o que de mais expressivo eu tenha
Meu silêncio são meus cinco sentidos.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Filha única (aos meus amores)

Faço jus.
Minha condição de única me faz enxergar o amor inteiro único. Me faz amar concentrado, exagerado, no estilo "eu posso até morrer de fome". Eu que não sei entender como se diz "eu te amo" de maneira múltipla e metamórfica, já bem disse alguns amares, jurei e dei até sorriso. Ainda assim é inútil, fico sem entender o múltiplo de amor, que na minha matemática vai do zero ao dois. Eu que já amei mais de uma vez, que tenho mais de um amor, não entendo como isso pode acontecer.
Meu amor é a existência ímpar, una. Se te amo é porque não há outro no mundo. E no bate e volta, natural é que me reconheça, que jamais responda a "qualquer um na rua beija-flor". É grave doutor? - É, agudo. Problema de não compreender nunca meus amores terem tido outros amores. Não entendo tempo, passado, nem momento, entendo de amor eterno – eu, que já botei ponto final em história. Reinvento tempo e sentido pra explicar a singularidade de amor, de amar várias vezes e apenas uma na vida. É que amo um de cada vez, mesmo que ao mesmo tempo. Amo como uma perfeita filha única, porque não conheço outra forma de ser. Apesar do mundo me considerar "mais uma", nunca me ame como mais uma, preciso ser amada como uma, pois sou ignorante de amor com S.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Excitação da palavra

Era evidente a inquietação levando a apertar o braço alheio, resmungar qualquer coisa, pois "qualquer coisa" parece sempre um bom caminho quando encontra-se (se perde) nesse estado. Entre palpitações está uma dura certeza, doendo por não descobrir o nome, ardendo por pouco importar não ter um. Que respira em silêncio dentre o sócio-qualquer-coisa ou literalmente gritante quando num diálogo - como naqueles dias de solidão a dois, uma casa inteira em diálogo. Esse, que é tão perceptível, ligeiramente entendido. E depois a particular maneira de explicar com palavras e quando o lê me diz demorar para juntar os sentidos - não tem problema, diria amorosamente, é só um outro jeito de expressão, como uma foto.
É fácil demais vagar em exaltações que se afirmam na "falta". Mas falta do quê? Diria desnorteado, enquanto fuço todos os cantos. Falta é só um sintoma do que está sofrendo. Num ar frio por dentro, porque quente está, pouco importa explicação coerente pra quem está louco, doente, alucinado. Estar do frio ao fogo é coisa que a ciência não entenderia e a literatura, generosa, enfeita e faz respirar melhor. Porque essa coisa que borbulha e ao mesmo tempo paira como o vento, é o que de mais vivo existe no ser humano. Não finda ou tão somente é "eu te amo", é tudo passando ao mesmo tempo num tufão interior, que salta pra fora o, diria erótico:

eu quero você.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Daqui

Tenho tecido os momentos e aberto bem os olhos, expandindo o quanto melhor der pra ver. É assim que ultimamente tenho amado e doído, sem depender uma coisa da outra. O que tem me revelado. Na verdade tudo se revela nesse sagrado sim ao que vier. E veio. Vem.

A partir de então ela pôde assistir a quebra de preceitos, a ridicularização de si mesma, a concretização do seu rosto e todas as expressões, ela passou a ver quase tudo. Já nem lembrava como isso começou, era atropelada por mais um muro que desabava na sua frente - muro de concreto. Acontecia muito. Chegou ao ponto que clamava que parasse de ver a sua vida, tão maciça, de querer sair de onde está e ir para o campo. Tudo verde, o cheiro de terra, os cavalos e pessoas com aparência de tranquilidade, fora de perigo. Esquecia que sua vida viria com ela, que os olhos continuariam bem abertos e que até o campo poderia desabar na sua frente. E as vezes vertia em lágrimas que não esgotavam. Na lista das piores coisas, que se recria sempre, está a incapacidade de, no choro, não se esgotar.Tudo o que ela passou a querer era que se esgotasse, em palavras, em socos, em coisas que ela jamais diria e que achava ridículo. Esgotar um pouco amando, esgotar um pouco mais odiando e assim se esvair, até se acabar, até achar o final disso e querer começar de novo, é claro. Dispensar o dom de enxergar pois a claridade doía os olhos.

Eu vejo os que tem cadeira cativa e sorridentes moram nela, sofro só de pensar que se eu não fizer "alguma coisa", também possa ter uma cadeira para sempre minha. Não quero cadeiras nem salas de jantar com pessoas ocupadas em nascer e morrer. A vida é isso? As vezes penso tristemente que é. Tudo uma grande bobagem. A mais séria tolice que é o trabalho do que fazer com você mesma no mundo. Não é sobre o que vê do olho pra fora, é (sempre) sobre o que o dentro vê sentindo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Efeito Azul

enquanto solta a fumaça do cigarro
me engole
enquanto olho fixo
queimo
traga
dentro de mim
perco a noção
é um não sentir nada
e sentir tudo
que não quer que acabe