quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O que não tem no dicionário

Aquele que desperta um arrebatamento, único e inominável, que quanto mais sem nome mais intenso e grave, na voz e na forma. Que faz  borbulhar como coisa dentro da panela em fogo alto; e que de certa forma está mesmo fervendo. Que não se tem palavras, mas um corpo inteiro a flor da pele demonstrando um tanto que, na maioria, não se pode controlar o que fica exposto. Que é anseio não por aflição, mas por ser mais uma das coisas a incluir-se entre as vírgulas do que causa. Que através do toque, estalam partículas adormecidas, tendo a cara de pau de permitir que uma coisa assim aconteça, por exemplo, no meio da tarde. Aquele que carrega um nome e nele tudo a que atribuo e culpo, docemente, pela minha loucura. Você.



Escutando Justin Vernon - Liner

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Descobrindo o que é rir pra não chorar

Ainda tenho traços de ímpetos infantis. Me vêm quando estou desejando algo, ardentemente. Tenho medo por isso pois perco a noção racional e pressinto o quão perigoso é ter em mim somente o sentimento, mais nada. O emocional puro, sem palavras pra explicar ou apenas duas: eu quero. E desse modo me ocorreu chorar, por coisas só minhas e que por isso até me dói ouvir o barulho das teclas, entende? Deixar que pese sobre mim e que transborde em lágrimas o vazio, da espera de tantas coisas que desejo e não vem. E depois de chorar, a vida seria a mesma coisa sempre. As mesmas páginas amarelas. Me fazendo sempre pensar que não adianta nada me derramar em lágrimas, mas também que não se chora para resolver a vida. E com tantas perguntas e indagações, mas poucas respostas, talvez eu devesse mesmo me por a chorar, mas é nesse momento que me ponho a rir.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Está escrito

Algumas pessoas acham Felícia quieta demais, pouco fala, mas se indagada demonstra estar inteiramente prestando atenção no assunto. Outras pessoas dizem que Felícia as vezes deveria guardar certos pensamentos para si ou talvez reduzir, enxugar mesmo o que for dizer. Como aqui ela nasceu, no mundo, a tal “cartilha” social é levada em consideração toda vez que se pega pensando duas vezes em tomar atitude em relação a alguém, geralmente em situação e com pessoa que realmente lhe importa. Só que isso tudo fica confuso pra ela saber qual a devida maneira, a mais prudente, a mais elegante, a menos lancinante de agir, o que significa saber o que falar ao outro. É um engole sapo, um engasga daqui outro dali e quando vai ver está vomitando da pior forma ou se calando quando deveria despejar e se esvaziar. Felícia, que é escritora e adora ler, passa muito tempo com as palavras e já chegou a achar que elas são muito melhores do que pessoas, talvez totalmente melhores, se não fosse para as pessoas que as palavras foram feitas, além de terem sido criadas pelas próprias. Ela pensa até numa revolução da comunicação, numa renúncia as palavras, mas se deu conta que a única forma que lhe basta para dizer tudo sobre esse disse me disse sobre, sobre como ela é e o que é certo expressar ou não, é com as palavras e pensou com ela mesma: ao menos posso escrever e poupar do esforço da boca e dos ouvidos.