quinta-feira, 24 de junho de 2010

Alinhamento


Deixo que teus olhos me toquem
porque vos quero.
Deixo a tua voz forte e doce
pois estremece os ouvidos e a face.

Já foi tempo que deixar era verbo sem destino,
pairava no ar...
conversa fiada...
Saco vazio que não tinha nem pé.

Mas sabe-se que o vento desordenado
o rumo é a sorte
e encontra nos braços de uma curva
o caminho para casa.

Lá se vai uma antiga solidão.
Deixo que me queiras
porque te quero,
tanto quanto os braços se curvam à sorte.

sábado, 19 de junho de 2010

Dois em um

Feche a porta que eu agora vou falar a sua língua.
Quem sabe um dia encontrar a nossa vez,
entre salivas e muitas sílabas,
talvez encontrar a nossa forma.
Será que existe um sabor e um aroma
tão conhecido
que direi:
nem meu,
nem seu,
nosso?

domingo, 13 de junho de 2010

Relógio de pulso

Já foi tempo.
Tempo demais,
tempo de menos,
findou-se o tempo.

Marcado pela cicatriz,
rasgado pelo ponteiro,
já faz tempo
que foi.

Tempo que será,
tempo que vier,
tempo.
Vigília antiga.

Já testei os segundos,
desisti dos minutos,
deixei correr solto,
e o tempo passou ligeiro.

As horas infinitas
me curaram da dor,
me deram sermão,
secaram as feridas.

Em tempo bom
é hora de sorrir,
em tempo ruim
usa-se muitas roupas.

O tempo no rosto
que esconde a vontade,
que fala sobre saudade,
que deixa escapar a ingenuidade.

Indomável, tempo.
Me olha nos olhos
e passa por mim
sem nem "até logo" dar.

Faz um tempão,
um tanto que não cabe na mão
nem saliva para contar,
nem coração que há de aguentar.

Me dê um minutinho,
só esse
aquele,
qualquer um que eu possa pausar.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Pra não saber, para descobrir.

Quanta dor cabe no tempo?
Uma conta, algumas lágrimas.
Qual é o peso da angústia?
Uma medida um coração.

Quanto vale o erro?
Uma dívida, um perdão.
Qual é a largura do desejo?
Um braço, o corpo inteiro.

Qual é a cor da paixão?
Sangue quente, vermelho.
Quanto choro cabe numa dor?
Um travesseiro, um mar de lágrimas.

Qual é o caminho da dúvida?
Duas estradas, nenhuma placa.
Que altura tem a escolha?
Um tombo, a morte.

Qual a intensidade da inquietação?
O infinito, um desespero
Qual a idade da velhice?
O mal humor, algumas rugas.

Qual o limite da razão?
A realidade, uma emoção.
Quanto vale o amor?
Uma dor, um encontro.