quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Filha única (aos meus amores)

Faço jus.
Minha condição de única me faz enxergar o amor inteiro único. Me faz amar concentrado, exagerado, no estilo "eu posso até morrer de fome". Eu que não sei entender como se diz "eu te amo" de maneira múltipla e metamórfica, já bem disse alguns amares, jurei e dei até sorriso. Ainda assim é inútil, fico sem entender o múltiplo de amor, que na minha matemática vai do zero ao dois. Eu que já amei mais de uma vez, que tenho mais de um amor, não entendo como isso pode acontecer.
Meu amor é a existência ímpar, una. Se te amo é porque não há outro no mundo. E no bate e volta, natural é que me reconheça, que jamais responda a "qualquer um na rua beija-flor". É grave doutor? - É, agudo. Problema de não compreender nunca meus amores terem tido outros amores. Não entendo tempo, passado, nem momento, entendo de amor eterno – eu, que já botei ponto final em história. Reinvento tempo e sentido pra explicar a singularidade de amor, de amar várias vezes e apenas uma na vida. É que amo um de cada vez, mesmo que ao mesmo tempo. Amo como uma perfeita filha única, porque não conheço outra forma de ser. Apesar do mundo me considerar "mais uma", nunca me ame como mais uma, preciso ser amada como uma, pois sou ignorante de amor com S.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Excitação da palavra

Era evidente a inquietação levando a apertar o braço alheio, resmungar qualquer coisa, pois "qualquer coisa" parece sempre um bom caminho quando encontra-se (se perde) nesse estado. Entre palpitações está uma dura certeza, doendo por não descobrir o nome, ardendo por pouco importar não ter um. Que respira em silêncio dentre o sócio-qualquer-coisa ou literalmente gritante quando num diálogo - como naqueles dias de solidão a dois, uma casa inteira em diálogo. Esse, que é tão perceptível, ligeiramente entendido. E depois a particular maneira de explicar com palavras e quando o lê me diz demorar para juntar os sentidos - não tem problema, diria amorosamente, é só um outro jeito de expressão, como uma foto.
É fácil demais vagar em exaltações que se afirmam na "falta". Mas falta do quê? Diria desnorteado, enquanto fuço todos os cantos. Falta é só um sintoma do que está sofrendo. Num ar frio por dentro, porque quente está, pouco importa explicação coerente pra quem está louco, doente, alucinado. Estar do frio ao fogo é coisa que a ciência não entenderia e a literatura, generosa, enfeita e faz respirar melhor. Porque essa coisa que borbulha e ao mesmo tempo paira como o vento, é o que de mais vivo existe no ser humano. Não finda ou tão somente é "eu te amo", é tudo passando ao mesmo tempo num tufão interior, que salta pra fora o, diria erótico:

eu quero você.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Daqui

Tenho tecido os momentos e aberto bem os olhos, expandindo o quanto melhor der pra ver. É assim que ultimamente tenho amado e doído, sem depender uma coisa da outra. O que tem me revelado. Na verdade tudo se revela nesse sagrado sim ao que vier. E veio. Vem.

A partir de então ela pôde assistir a quebra de preceitos, a ridicularização de si mesma, a concretização do seu rosto e todas as expressões, ela passou a ver quase tudo. Já nem lembrava como isso começou, era atropelada por mais um muro que desabava na sua frente - muro de concreto. Acontecia muito. Chegou ao ponto que clamava que parasse de ver a sua vida, tão maciça, de querer sair de onde está e ir para o campo. Tudo verde, o cheiro de terra, os cavalos e pessoas com aparência de tranquilidade, fora de perigo. Esquecia que sua vida viria com ela, que os olhos continuariam bem abertos e que até o campo poderia desabar na sua frente. E as vezes vertia em lágrimas que não esgotavam. Na lista das piores coisas, que se recria sempre, está a incapacidade de, no choro, não se esgotar.Tudo o que ela passou a querer era que se esgotasse, em palavras, em socos, em coisas que ela jamais diria e que achava ridículo. Esgotar um pouco amando, esgotar um pouco mais odiando e assim se esvair, até se acabar, até achar o final disso e querer começar de novo, é claro. Dispensar o dom de enxergar pois a claridade doía os olhos.

Eu vejo os que tem cadeira cativa e sorridentes moram nela, sofro só de pensar que se eu não fizer "alguma coisa", também possa ter uma cadeira para sempre minha. Não quero cadeiras nem salas de jantar com pessoas ocupadas em nascer e morrer. A vida é isso? As vezes penso tristemente que é. Tudo uma grande bobagem. A mais séria tolice que é o trabalho do que fazer com você mesma no mundo. Não é sobre o que vê do olho pra fora, é (sempre) sobre o que o dentro vê sentindo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Efeito Azul

enquanto solta a fumaça do cigarro
me engole
enquanto olho fixo
queimo
traga
dentro de mim
perco a noção
é um não sentir nada
e sentir tudo
que não quer que acabe

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Embriaguez

,ai de mim.
De repente estou calma, como quem cumpriu alguma coisa que fosse grave, dessas que se sente a vibração. Mas não sei de nada, tamanha a leveza quando se carrega o cumprimento da "coisa". O contraste de tudo, o vento , a rua, os passos. A ousadia de ser completa diante de tantas outras coisas que faltam. Ao mesmo tempo que se alcança um ápice, não qualquer, de um amadurecimento e testemunhar que nada passa do recém nascimento de uma escolha e portanto agir como quem começa do zero: desengonçada. A super-exigência que indica o absurdo da calma - se o amor é tão certo. O amor é tão certo. Quando não se bebe mais do gosto da arrogância e tudo é extremamente natural nas pontas desconhecidas de si mesmo e do outro. Como suportar o peso do "tudo" e do "nada"? Como? se a pelizinha da unha incomoda, o ponteiro faz "tic-tac", a conversa-ladainha é redundante. Redundante. Os dias da semana são cinco, meu rosto tem rugas de expressão de 24 anos e uma interrogação enorme, maior que uma metáfora, atingi o limite de todo o meu drama. Que começa na unha, que vai para o relógio, que... "tec-tec" do teclado. Eu não sei carregar o peso da calma, porque a realidade é tudo o que engole. Nunca estive tão serena e tão perdida.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

1 dose de tudo

Me exige, com sua simplicidade, uma esfera maior de coisas boas, ridiculariza todos os meus monstros, mesmo que não seja esse o objetivo. Está nesse mundo como eu, me deixando assim muito confusa - Pois na posição de organizadora das coisas vejo ele lado a lado com a natureza e essa coisa de generosidade de quem é - que como tudo ao redor, transmutando e vivendo, se mostra com suas caras infinitas, suas facetas indiscretas (e toda a sua melhor imperfeição), de repente o suco nunca foi não uniforme. Que me dói a falha de comunicação, pois ainda insisto em fantasias de relação homem e mulher (enquanto você nu). Fazendo assim necessário, preciso, incontrolável, morder os lábios. Meu peito é qualquer coisa quando me perco por puro orgulho e pelos minutos que gasto pensando nas mil maneiras de dizer, colocar, arrumar, não sirvo pra mais nada. (Essa tal devoção de amar, indeclarável).Chego num certo ponto que não sei mais sobre o que estou dizendo. Os borrões, a disposição de tudo, desde a fala ao branco dos olhos. Não é só a ansiedade de graça que me vem, é essa minha mania, a overdose/abstinência de uma sintonia ordinária do que tem ao meu redor, que me consome o descontrole dos átomos.



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Agoras


O tempo “enquanto” é um estado que engana
“Enquanto” não tem palavra depois
Enquanto nada
No meio
Enquanto tudo
“Enquanto” é só por agora
só que agora no plural.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Rascunho importante

Estou decidindo...estou decidindo...estou deci...
Sinto pelas horas que preciso, pre-ci-so, acertar as coisas na cabeça. Arrumar pra acreditar. Eu sinto muito por sua boca dizer coisas tão bonitas, suas mãos, com simplicidade, me ter, enquanto eu com dificuldades de assimilar. Sinto muito pelos sorrisos, pelas pidas, descontraídos. Por minha cabeça pirar com isso tudo e nem deixar pra depois, as vezes ali mesmo pensar numa coisa ruim, pra nos redimir dessa tal simplicidade de gostar um do outro. A propósito, sinto muito por gostar e imediatamente não saber o que fazer. Numa vida como essa, num a dois como nós e a perfeição que seria o presente mais merecido, me escapa. Eu sinto muito pelo descuido. E como sinto, pelas reticências em que me equilibro a dois anos e você bem no meio, antes, depois... Eu sinto muito por estar na roda viva, e portanto ser cruel, ingênua, perdida. Por me fugir, por fugir de você, por não deixar que seja esses meus trapinhos que eu adoro, enquanto você inesperadamente me olha, o cheiro no pescoço, as horas que não existem, podendo até confundir com pecado.

Eu sinto muito.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Tolice nossa, nos dai hoje

E se eu for hippie por um tempo, o suficiente pra eu voltar pra realidade continuar com a minha conta no banco, os finais de festa com roupa linda fedorenta a “fins”. Se eu ficasse deitada nesse sofá maravilhoso, caísse nas nuvens e doesse? o chão duro, frio! Se olhar pra frente fosse como faço agora, olhar, olhar sem fim nem foco – ah que maravilha... é tão gostoso estar de pijamas, não fazer nada algumas horas, ficar de roupa muito bem planejada com o dia e o lugar, algumas horas (bato o martelo em vão). E se talvez eu controlasse o tempo, transcorrendo, dividindo, escolhendo, até esquecer o forno ligado - a minha cara.


terça-feira, 24 de julho de 2012

Sobre tom e sintonia ou "essas" coisas

Ali, a figura de homem se formando, grave, quase um conceito de pé na minha frente, em tom de: sou real, seco e úmido, como a natureza. Ele era um tapa na cara.
De início, não havia possibilidade de aceitar o tapa. Era aquele homem e minhas inconformações, velhas e ranzinzas; meros caprichos quando pensava olhando pra ele; o que era intrigante e novo, mas ainda intangíveis quando voltada para mim mesma - uma urgência de ter que saber o que e como fazer com as coisas. Em algumas situações soube fazer o que toda mulher faz, o que não com o mesmo esforço faz o homem e abstraia sem esforço, sem nem se deixar saber que o fazia. Não da mesma forma que se engole sapo, mas como quem come mosca desconhecendo o que engoliu.
Vivendo com a benevolência de um tal sentimento...uma bondade tão “boa” que é preciso muita inteligência. Eu, que sustentava confortável meus defeitos, vou tentando ser elegante diante da... felicidade?ranjo os dentes. Cordial comigo mesma. Mas como todo ser humano, nada mais natural que com o tempo ajudasse a encontrar e ostentar também os defeitos do outro, estranho é continuar achando ele "o cara mais lindo que já existiu".
Pago com a mesma moeda que todo mundo, minha ingenuidade. Me redimo sob a luz do sentido, as vezes prudência - tantas vezes sufocante. A prudência pela prudência seria o nem nascer de um amor, penso já na loucura. E as voltas de admitir, digo tantas coisas, descubro que o que existe entre eu e esse "cara", jamais vou pronunciar.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Calado

sobre tuas vias, nada a declarar
gritamos tanto
como é possível?
olho
louco
eu
silêncio de fundo do mar
porém não mais só
porém imenso

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Se vai vivendo e morrendo

Sabe que amanhã o horário é as 7, em ponto. Quantos cansaços extrapolam a conta do corpo, um rosto fora de beleza ou gasta. Ninguém vai entender, é preciso maquiar para que seja possível uma outra compreensão de mim. Estou as oito no trabalho, treinadamente caminhando para a minha mesa, vestindo um rosto compreensível, roupas compreensíveis, “bom dia” reconhecível.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Do verbo ser

que me dá tanto dessa tranquilidade
se enerva em desóbvio
amolece em estalos
nunca vou te contar
por onde vou nua nas ruas
em cada ponta do cabelo
quando percorro a avenida
quando atravesso os sinais
caminhando sem voz
somente o ar de “sou vento”
capaz do seu nome jamais gritar
pegar o “tão” e guardar
que é tarde
todo mundo já sabe
é uma mulher a andar

sábado, 16 de junho de 2012

Me belisca

Ou uma lista de mudanças a serem tomadas ou qualquer coisa que se deva para uma vida melhor. Dessa forma. Antes fossem opções, o que parece é que são grandes rochas, tantas, todas, imponentes. É só olhar a rua, o Rio de Janeiro, um desespero sorridente, de boca treinada. Não tem estopim, do tudo ao nada; o vácuo de viver sem algo que...não é um estado de inércia e, por si só, não gera empenho para explicar, pois aqui está tudo cristalino e cristalizado. Se tivesse cor seria branco, se fosse alguém, não existiria. Ficam então as opções, inteiras e intactas, as palavras "é isso e ponto". Surge como um dos devaneios mais certos de uma vida? De repente tudo é tão conclusivo que mata. O que chega é rapidamente compactado por ideias acumuladas, antigas, conceitos longinquamente construídos ao suor de quem muito já acreditou. Não tem mais aquele prazer que é sofrer por falta de respostas. O prazer tortuoso, arder por não querer as coisas ou foguear por ardentemente querer. Há somente o esforço viciado do óbvio. Vivendo agora em reza. Nem simples nem complicado, irônico.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Exageradamente simples


Sobre meu colo uma parte do corpo me deixando inteira borbulhante, em partículas tontas. Nesse momento já não são palavras e o peso leve, afundante. Eu tenho um medo enorme de te estragar mas não pare de se afundar sem aviso no meu pescoço, nunca.
Me preocupo com a nossa saúde, pois da minha parte rolam tempos que azedo, enquanto você só quer a paz, parece que carrega a segurança de um rei. Quando doce, acho isso tão lindo e certo quanto sei que essa “paz” é atordoadamente o que sempre desejei. Todas as coisas do mundo que sonhei concentradas em um único corpo, e com defeitos! O quão real é...(já disse, saber o que fazer com o punhado de felicidade na mão, alcançado, eu rio porque não faço a menor ideia. É tudo mentira que tenho resposta pra tudo, aliás também disso rio, não sei de onde tirou essa loucura).
Como faço com os ciclos que me afetam e eu no mundo saio fazendo estrago, louca, mulher, desvanecida? Mesmo que eu não saiba, até nessas horas estamos os dois muitos simples: “ele é um homem e eu sou apenas uma mulher”, é tudo só isso.


(das coisas que me diz Cazuza)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

E agora, Maria?


 Não sou boa em saber o que fazer das coisas, ou pelo menos não ando sendo. E na atual circunstância, me dou o direito do exagero, principalmente com cansaços, pois já me basta o esgotamento, que seja ao menos o maior do mundo. Mas isso está longe de uma atitude ou de ser uma sábia maneira de lidar. Misturo brilhantemente racionalidade com o emocional, onde o sucesso se apresenta no: nada resolvido. Era tão melhor quando eu pensava toda inconformada "que merda que não fui a woodstock" e essas inconformações eram muito minhas, sem nenhuma consciência, sobretudo. O que aconteceu com minhas roupas que agora são: vai esfriar mais tarde, melhor ir de calça? o abominável jeans? todos os dias. Lembro que antes as coisas tinham o peso do desejo, puro e único e era isso o que eu fazia, carregava aquilo que suportava, mesmo que achasse que não, no fundo eu sabia que aguentava. Hoje elas tem outro peso, e a dificuldade de carregá-las me faz até esquecer o que e para onde carrego, quando vou ver já está tudo ali me dizendo "hum, e aí?" esperando uma definição minha ou uma direção, só que eu nada.
Não são ações de "sim" ou "não", mas saber o que fazer é uma certeza de escolha que não precisa de falas nem discursos, a não ser por veemência: sabe-se, faz-se. Então percebo minha falta de algo que é crucial, que do contrário é assim que a gente fica e assim tenho ficado: do desespero ao pânico ao cansaço. Sinto por não cumprir alguma coisa que nem sei. Que eu tinha a obrigação de estar completa e falta ainda uma parte considerável, além de alguns contornos sem direção definida. Fica difícil admitir isso tudo de mim mesma, o rumo que só posso perguntar "que rumo?" e responder imediatamente, "como você não sabe?!". Dura comigo, sou frágil e me afeta minha consciêcia. Não é questão de exigência, é que sou eu, é comigo o negócio. Fora os momentos de rigorosa reflexão, a gente respira, caminha, come, dorme, acorda e depois tudo outra vez, sem a menor ideia do que fazer das coisas, enquanto todo mundo tem certeza que você está viva.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Sobre você

Não tem pontas, início nem fim. Essa é a concepção mais próxima que se pode dar como explicação, e é mesmo desforme, totalmente desforme. Não tem e não gosta de porquês (ficando eu encarregada das compreensões por dedução), pois se me beija é por alguma coisa nos meus lábios, braços ou pescoço que o atraiu, sem percepção descritiva, como se fosse um animal e seu instinto apenas sendo.
Sem minhas palavras, que eu possa enfeitar uma frase e assim dizer mais do que para alguém mas para mim, sobre o que é isso que eu chamo também de “você”, como se “você” tivesse hoje se transformado em uma única e exclusiva identidade, em todos os “vocês” concentrados em apenas você. E a imagem oscila entre os tempos, seus tempos, tudo num instante agora, dentro de um liquidificador despretensioso mas corajoso com experiências. Assume antecipadamente qualquer tempo e rugas, para nunca alcançarem seus segredos, que talvez nem ele mesmo saiba.
No meu caso, o equívoco ou palavra que se arrume desesperada para “vestir”, são fáceis para presas como eu, ao invés de simplesmente respirar. Procuro sentido na boca dele que me diz em outras palavras, como em línguas afiadas, culinária ou silêncios.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Avesso do óbvio

A medida de mim é transbordar.
Então, sem pé nem cabeça,
rodo a procura do próprio rabo
me perguntando afinal,
é bom pra quem conseguir ou não se alcançar?
Gerundiando por instinto,
desesperada por falta de lógica que conforte
Quem faz tratos comigo sou eu,
quem esquece tem a mesma cara lavada.
Mas nunca tão óbvio quanto o espelho,
é um não saber o que fazer consigo mesmo
e também desfazendo com as próprias mãos.

sábado, 21 de abril de 2012

Lógica

Então vamos falar do turvo. Não. É sobre o bem claro e escuro temperamento. Você admite? Mas é claro, mas não em palavras. Veja bem, sou muito sensível ao que destoa do cheiro e cor do meu mundinho. E você tem total culpa, preenchida pelo descuido quanto a percepção - talvez ela necessite ser apurada. A gente tem preguiça, graças a deus nos permitimos poupar. A gente tem que ter coragem, encha o peito ou faça por puro gosto ao próximo - Não sei se é isso que chamam de equilíbrio, acho que pode ser. E gostar de alguém significa, espante-se, gostar do mundo dela e sobretudo, anote, fazer carinho no mundo dela. Esse gostar é simples, não no sentido de simples, mas é simples: compreende-se porque se gosta, e é bem simples a lógica porque é espontâneo. O esforço também vale como compreensão mas o contrário disso não vale de nada e o ideal mesmo é descartar. Como quem descarta uma objeto, como quem acaricia um pedaço de papel com as palavras dele.

não tem

terça-feira, 17 de abril de 2012

Desenho de um monstro

Rio, 17 de abril de 2012.

Você,

Tamanho medo que dá de sentir que alcança em mim uma parte que nem eu sabia, sobretudo por não conhecer. Não é o fato de ter alguém, é o fato de ter você. Também não é uma questão de medo exatamente ou talvez seja de um medo bom, como cócegas numa parte sensível de mim, (as vezes torturante).

Mas eu insisto comigo mesma (tenho manina de achar) que a parte "sombria" da vida é mais real e custo a acreditar que coisas boas assim existem. Por isso, me conhecendo e receando sobre as coisas boas, gostaria de controlar a dose certa, manter minhas próprias rédeas, numa cautela que julgo boa para minha própria saúde, me assegurando das tendências naturais, do exagero, impulsividade e outras características de quando gosto de alguém. Mas sentir ainda não é o tipo de coisa que consigo controlar (nesse caso, por sorte?). Afim de concluir algo mais racional e menos emocional, me engano que, em tal circunstância, a segurança de uma lógica ainda fosse possível e fico sem nada ou (apenas) com tudo. Até que me deparo inevitavelmente com"x" da questão, que é o que verdadeiramente importa entre duas pessoas: o que se sente pelo outro, que em mim se afirma no desejo que sinto de você. Isso foge a mim, volta, como consciência indiscreta, foge e volta, num movimento transgressor. E não tem a ver com romantismo, ou talvez tenha um pouco, mas mais ainda com uma realidade escancarada onde muitas vezes se apresenta a mim, numa agradável surpresa de uma lembrança "banal" do dia a dia, por exemplo. Que entre olhares, encontros e "eu ter você", vice e versa, existe uma coisa que eu chamaria de “manusear com os olhos”, num ato que eu poderia afirmar ser tão sensual quanto singelo visto daqui.

Diante de tudo, como marca indiscutível, me afeta em muitas áreas do sentir, fazendo tempestade; seja em metáforas ou com as próprias mãos, mas tudo com uma certa beleza que não posso negar que você me inspira. Contudo, tenho em mim a necessidade de esgotar as coisas, incluindo sentimentos, até agora, que me deparei com outro tipo de inspiração: que ao mesmo tempo se esvai e não quer que acabe. A isso, tenho chamado de amor e de fato amado, experimentado, indiscutivelmente vivido. Portanto, não posso concluir essa carta, para me manter, na medida do possível em certa coerência. Posto que tenho como característica mais forte que eu o esgotamento das minhas questões, uma excessão se destaca, muito mais fora do meu controle. Não vou me empenhar em achar um final para essa carta, pois não tenho pretensão em exaurir o assunto senão desfrutar do que é e vier.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Off

(Eu deveria estar alguma coisa que não estou. Fica as vezes a sensação de que “escrevi” ou disse alguma coisa, ou de um modo, que a minha vontade é apagar tudo. E quando “rasuro”, a sensação é ainda mil vezes mais terrível. Meu deus o que estou fazendo??? Todo esse gosto no meio do “estou vivendo”, e de todas as coisas estão os meus erros, sobrepostos os meus acertos; um desenho tão feio que não posso me perdoar por tamanha falta de beleza com aquilo que é meu e sou eu. De qual forma for, sou empurrada pra frente a viver, com cara de quem bebeu algo amargo, mas isso não importa, vai-se.)


segunda-feira, 2 de abril de 2012

Dentro do dentro



Nunca tinha encarado a "beleza" de frente.
Parece batida lenta de música
e que depois mais forte, e cada vez mais forte, mais forte...
- Por favor me destrua!
Lembrando da esfinge, grito dentro.
São delírios,
tão certos e decisivos quanto os olhos,
- como tem coragem de me olhar assim? Como pode?
Eu não tenho outra alternativa senão te amar.
De repente,
sem essa noção de tempo,
é só a única coisa que sou.
O mundo não existe e eu cara a cara com “tudo”.
E no gozo de todas as horas,
banalizo.
Como quem pisca rápido os olhos
e sacode a cabeça de uma vertigem

(mas eu sei o que eu vi).



Escutando First Song For B - Devendra Banhart

segunda-feira, 26 de março de 2012

No mundo dos estranhos só tem seres humanos


Estranho cuidado de ser, justamente porque “ser” não é para si. Então somos estranhos, bobos, burros, querendo alcançar uma coerência entre o que acredita e o que quer que o outro veja – porque sempre se quer.
- Ei, isso que você está vendo de mim é algo inconscientemente, cuidadosamente o que eu sou pra você e é de coração! Até que o primeiro desentendimento, óbvio, desnorteia. Então já decidi, não vou ser porra nenhuma e nem quero que sejam pra mim. Acho a maior prova de amor: não ser nada.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Eus e eles

Dizia: eu sou intepestuosa, ansiosa, amorosa...e um eco se expandia imediatamente. Ela se calava. E então era um eco interno, mas ainda um eco.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O clímax de um cansaço

...é que tem tanto mundo dentro de mim que estou "estragada". Mas isso não é o pior, mais grave é estar pensando por essas vias tão "humanas": querer uma salvação pra cada problema, amar e doer na mesma linha, entre tantas outras convenções do mundo desesperado, do qual se faz parte em via de mão dupla, onde muitas vezes o maior benefício recebido é cansar-se para manter-se vivo.
Apesar de tudo nessa vida ser um pouco (ou somente) elaboração, falo de um "corte" na pele que existe, sangra e dói. Falo por concepção própria, tão funda quanto a ferida que arde. O que chama-se "profundo" no mundo dos homens que já nem lembram mais por que estão dizendo mas falam com propriedade antiga, soltando a torto clichês que fogem, por exemplo, da profundidade apenas “física” da questão. Como é difícil digerir o estado tal de consciência, que é uma viagem sem fim: essa bestial maneira de viver por vezes, que também é vida, esse sacrifício sorridente do dia a dia; nele também corre sangue, essa espera interminável, sufoca, porém, ainda é vida; justamente por se afirmar através da dificuldade de respirar. Acontece que isso tudo me incomoda demais. Não pelo desconforto em si, mas principalmente por ser obrigada a aceitar que tudo isso, sim, também é vida!

(Não esquecer de quando trocar de bolsa pegar o cartão do banco, ver o saldo, trabalhar e esquecer da conta que com certeza ainda não foi depositado o dinheiro...)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Porto


:pode ser “momento”, que ao mesmo tempo pequeno – diminuído - é a coisa mais urgente – e sempre mais urgente – que se pode sentir. Ao mesmo tempo menor, ao mesmo tempo a maior e mais importante coisa do mundo. E dessa coisa, sem verdade absoluta, sendo tudo e ao mesmo tempo “coisa que passa”, aquilo que se tem certeza - mesmo essa sendo inexistente, já que estamos falando de pessoas e o que tem dentro delas. E eu digo que “estou certa disso!”.
não me deixa olhar pra frente, 
não deixa que hoje acabe 
mesmo eu já acostumada a morrer 
A sorte é poder reinventar, é poder sentir que “está tudo bem agora”, são as únicas coisas que a gente tem na vida: morrer e viver.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O que não tem no dicionário

Aquele que desperta um arrebatamento, único e inominável, que quanto mais sem nome mais intenso e grave, na voz e na forma. Que faz  borbulhar como coisa dentro da panela em fogo alto; e que de certa forma está mesmo fervendo. Que não se tem palavras, mas um corpo inteiro a flor da pele demonstrando um tanto que, na maioria, não se pode controlar o que fica exposto. Que é anseio não por aflição, mas por ser mais uma das coisas a incluir-se entre as vírgulas do que causa. Que através do toque, estalam partículas adormecidas, tendo a cara de pau de permitir que uma coisa assim aconteça, por exemplo, no meio da tarde. Aquele que carrega um nome e nele tudo a que atribuo e culpo, docemente, pela minha loucura. Você.



Escutando Justin Vernon - Liner

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Descobrindo o que é rir pra não chorar

Ainda tenho traços de ímpetos infantis. Me vêm quando estou desejando algo, ardentemente. Tenho medo por isso pois perco a noção racional e pressinto o quão perigoso é ter em mim somente o sentimento, mais nada. O emocional puro, sem palavras pra explicar ou apenas duas: eu quero. E desse modo me ocorreu chorar, por coisas só minhas e que por isso até me dói ouvir o barulho das teclas, entende? Deixar que pese sobre mim e que transborde em lágrimas o vazio, da espera de tantas coisas que desejo e não vem. E depois de chorar, a vida seria a mesma coisa sempre. As mesmas páginas amarelas. Me fazendo sempre pensar que não adianta nada me derramar em lágrimas, mas também que não se chora para resolver a vida. E com tantas perguntas e indagações, mas poucas respostas, talvez eu devesse mesmo me por a chorar, mas é nesse momento que me ponho a rir.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Está escrito

Algumas pessoas acham Felícia quieta demais, pouco fala, mas se indagada demonstra estar inteiramente prestando atenção no assunto. Outras pessoas dizem que Felícia as vezes deveria guardar certos pensamentos para si ou talvez reduzir, enxugar mesmo o que for dizer. Como aqui ela nasceu, no mundo, a tal “cartilha” social é levada em consideração toda vez que se pega pensando duas vezes em tomar atitude em relação a alguém, geralmente em situação e com pessoa que realmente lhe importa. Só que isso tudo fica confuso pra ela saber qual a devida maneira, a mais prudente, a mais elegante, a menos lancinante de agir, o que significa saber o que falar ao outro. É um engole sapo, um engasga daqui outro dali e quando vai ver está vomitando da pior forma ou se calando quando deveria despejar e se esvaziar. Felícia, que é escritora e adora ler, passa muito tempo com as palavras e já chegou a achar que elas são muito melhores do que pessoas, talvez totalmente melhores, se não fosse para as pessoas que as palavras foram feitas, além de terem sido criadas pelas próprias. Ela pensa até numa revolução da comunicação, numa renúncia as palavras, mas se deu conta que a única forma que lhe basta para dizer tudo sobre esse disse me disse sobre, sobre como ela é e o que é certo expressar ou não, é com as palavras e pensou com ela mesma: ao menos posso escrever e poupar do esforço da boca e dos ouvidos.