sexta-feira, 27 de abril de 2012

Avesso do óbvio

A medida de mim é transbordar.
Então, sem pé nem cabeça,
rodo a procura do próprio rabo
me perguntando afinal,
é bom pra quem conseguir ou não se alcançar?
Gerundiando por instinto,
desesperada por falta de lógica que conforte
Quem faz tratos comigo sou eu,
quem esquece tem a mesma cara lavada.
Mas nunca tão óbvio quanto o espelho,
é um não saber o que fazer consigo mesmo
e também desfazendo com as próprias mãos.

sábado, 21 de abril de 2012

Lógica

Então vamos falar do turvo. Não. É sobre o bem claro e escuro temperamento. Você admite? Mas é claro, mas não em palavras. Veja bem, sou muito sensível ao que destoa do cheiro e cor do meu mundinho. E você tem total culpa, preenchida pelo descuido quanto a percepção - talvez ela necessite ser apurada. A gente tem preguiça, graças a deus nos permitimos poupar. A gente tem que ter coragem, encha o peito ou faça por puro gosto ao próximo - Não sei se é isso que chamam de equilíbrio, acho que pode ser. E gostar de alguém significa, espante-se, gostar do mundo dela e sobretudo, anote, fazer carinho no mundo dela. Esse gostar é simples, não no sentido de simples, mas é simples: compreende-se porque se gosta, e é bem simples a lógica porque é espontâneo. O esforço também vale como compreensão mas o contrário disso não vale de nada e o ideal mesmo é descartar. Como quem descarta uma objeto, como quem acaricia um pedaço de papel com as palavras dele.

não tem

terça-feira, 17 de abril de 2012

Desenho de um monstro

Rio, 17 de abril de 2012.

Você,

Tamanho medo que dá de sentir que alcança em mim uma parte que nem eu sabia, sobretudo por não conhecer. Não é o fato de ter alguém, é o fato de ter você. Também não é uma questão de medo exatamente ou talvez seja de um medo bom, como cócegas numa parte sensível de mim, (as vezes torturante).

Mas eu insisto comigo mesma (tenho manina de achar) que a parte "sombria" da vida é mais real e custo a acreditar que coisas boas assim existem. Por isso, me conhecendo e receando sobre as coisas boas, gostaria de controlar a dose certa, manter minhas próprias rédeas, numa cautela que julgo boa para minha própria saúde, me assegurando das tendências naturais, do exagero, impulsividade e outras características de quando gosto de alguém. Mas sentir ainda não é o tipo de coisa que consigo controlar (nesse caso, por sorte?). Afim de concluir algo mais racional e menos emocional, me engano que, em tal circunstância, a segurança de uma lógica ainda fosse possível e fico sem nada ou (apenas) com tudo. Até que me deparo inevitavelmente com"x" da questão, que é o que verdadeiramente importa entre duas pessoas: o que se sente pelo outro, que em mim se afirma no desejo que sinto de você. Isso foge a mim, volta, como consciência indiscreta, foge e volta, num movimento transgressor. E não tem a ver com romantismo, ou talvez tenha um pouco, mas mais ainda com uma realidade escancarada onde muitas vezes se apresenta a mim, numa agradável surpresa de uma lembrança "banal" do dia a dia, por exemplo. Que entre olhares, encontros e "eu ter você", vice e versa, existe uma coisa que eu chamaria de “manusear com os olhos”, num ato que eu poderia afirmar ser tão sensual quanto singelo visto daqui.

Diante de tudo, como marca indiscutível, me afeta em muitas áreas do sentir, fazendo tempestade; seja em metáforas ou com as próprias mãos, mas tudo com uma certa beleza que não posso negar que você me inspira. Contudo, tenho em mim a necessidade de esgotar as coisas, incluindo sentimentos, até agora, que me deparei com outro tipo de inspiração: que ao mesmo tempo se esvai e não quer que acabe. A isso, tenho chamado de amor e de fato amado, experimentado, indiscutivelmente vivido. Portanto, não posso concluir essa carta, para me manter, na medida do possível em certa coerência. Posto que tenho como característica mais forte que eu o esgotamento das minhas questões, uma excessão se destaca, muito mais fora do meu controle. Não vou me empenhar em achar um final para essa carta, pois não tenho pretensão em exaurir o assunto senão desfrutar do que é e vier.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Off

(Eu deveria estar alguma coisa que não estou. Fica as vezes a sensação de que “escrevi” ou disse alguma coisa, ou de um modo, que a minha vontade é apagar tudo. E quando “rasuro”, a sensação é ainda mil vezes mais terrível. Meu deus o que estou fazendo??? Todo esse gosto no meio do “estou vivendo”, e de todas as coisas estão os meus erros, sobrepostos os meus acertos; um desenho tão feio que não posso me perdoar por tamanha falta de beleza com aquilo que é meu e sou eu. De qual forma for, sou empurrada pra frente a viver, com cara de quem bebeu algo amargo, mas isso não importa, vai-se.)


segunda-feira, 2 de abril de 2012

Dentro do dentro



Nunca tinha encarado a "beleza" de frente.
Parece batida lenta de música
e que depois mais forte, e cada vez mais forte, mais forte...
- Por favor me destrua!
Lembrando da esfinge, grito dentro.
São delírios,
tão certos e decisivos quanto os olhos,
- como tem coragem de me olhar assim? Como pode?
Eu não tenho outra alternativa senão te amar.
De repente,
sem essa noção de tempo,
é só a única coisa que sou.
O mundo não existe e eu cara a cara com “tudo”.
E no gozo de todas as horas,
banalizo.
Como quem pisca rápido os olhos
e sacode a cabeça de uma vertigem

(mas eu sei o que eu vi).



Escutando First Song For B - Devendra Banhart