segunda-feira, 25 de abril de 2011

Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres

Eu mesma não tenho nada a dizer, mas suplico...

"...alivia minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte e sim a vida, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que eu receba o mundo sem medo, pois para esse mundo incompreensível nós fomos criados e nós mesmos também incompreensíveis, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade e paciência comigo mesma, amém."

Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, Clarice Lispector.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sintomas de uma fome

Surdos, os movimentos fazem barulho
brincam de metáfora.
Quando escondida,
a verdade nua não tem como ser dita,
de uma forma ou de outra,
faz-se.
Estávamos à luz do dia,
você sem almoço,
eu faminta.
Não tinha coisa que não fosse colchão
e os bancos eram feitos da primeira dobra de louça.
As cachoeiras aos poucos se firmaram dentro do meu banheiro
e se tudo parecia fora do lugar,
tinha chuva e fazia sol,
o espelho abafado
pelo calor de muito espaço pra pouca vontade de distância.
A página em branco que achei ser o espelho
fui eu escrita das suas mãos.

 
 

terça-feira, 5 de abril de 2011

Na cama

(Me salta aos olhos, suicida, me come com os mesmos, fico mordida. Grita, eu peço fala baixo mas se propaga como perfume, não adianta lavar o rosto, não é água que escorre é fogo que queima a roupa, um assalto e você com as mãos pra cima, um crime.) Antes de dormir pensava no roubo.