segunda-feira, 28 de março de 2011

Te recebo


Sob a meia lua,  
meus sussurros de doida.  
Algumas vontades narradas  
em cada suspiro de uma hora solta,  
cada passo que vira noite,  
em cada pé que, vagaroso,  
sussurra a madrugada.  
Mais à frente,  
chega a manhã.  
Estou amanhecendo repetida,  
no quase beijo da lua e do sol  
brilha desejo em espera.  
Céus,  
Faze de mim,  
a prometida,  
uma boa mulher para um homem que chega,  
pois estou tão louca  
que fui a zero nos dias sozinha.  
Faze de mim um abraço que diga,  
uma boca que cala  
e morrerei viva  
na não-noite,  
no não-dia,  
Nos braços de nossas horas.

terça-feira, 15 de março de 2011

Meu atalho de cada dia


Vocês me deram "tchau" e saíram sem nenhuma sacola pois isso eu não poderia permitir. O que conseguiram arrancar daqui, foi. Nem devolver vocês devolvem. Estamos quites. As minhas cartas tinham trilha sonora, não sou letrista mas cada uma era uma letra e tinha uma melodia Cat Power - não importa, e nem nunca importou, se vocês não sabiam disso. Eu continuaria escrevendo pra vocês e dando tudo o que eu chamo de “mel”: minhas pernas e braços e olhos, minha boca sorrindo um riso de final de clipe – quando o flerte é divertido e faz cócegas. Só que todo mel no fim azeda ou todo fim azeda o mel, também isso não faz mal. Vocês agora devem lembrar de mim numa figura que eu até imagino, o que não imaginam é que um mosquito picou minha perna e desde então eu estou coçando cada vez com mais força o que vem formando um machucado horrível para pôr vestidos – eu sei, eu podia controlar isso, mas vocês também já tiveram coceira. Portanto não me julguem, não me imaginem, não tirem das minhas cartas o que eu não escrevi nelas. Eu não sou o que vocês imaginam. Amém.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Morrer na praia



Eis aqui um corpo. Esse corpo que um dia foi mais obscuro e de tão, era rasgo no pano branco – denunciava o que ficava por baixo. Pele? Muito mais, era só o primeiro quilômetro dela. Este corpo que com o seu “a mais”, comia os textos evidenciando a sua agonia de corpo flagelado.  
Ah, o corpo que foi um dia... tocado tantas e tantas vezes como por uma criança que cutuca umas cem vezes o mesmo peixe saltitante na praia e toma sustos com os saltos do animal. Um dia se acostuma e não tem mais novidade as cutucadas, nem a criança acha diferente os mesmos pulos, o animal cansado anunciando o fim, ainda nas mesmas manobras. Mas a criança ama o peixe e essa é a primeira incoerência que um iniciante pode ter na vida.  
Virara uma coisa só os muitos rasgos. Já pasmo, um corpo sem objetivo que um corpo deve ter. Como designar a si mesmo? pois como se constituir um corpo que rígido é uma coisa só? Implorando pelo peixe, implorando que a criança arrumasse outra forma de instigar seus pulos que poderiam ser manobras nunca feitas. O corpo que não é descoberto mais. Eis aqui um corpo na areia da praia. Sem sombra do que poderia ser, sem alguém que não desvie o olhar do que ele é e do seu tempo futuro, que talvez nem chegue.