domingo, 27 de dezembro de 2009

O falso verde



O tempo me guiou ao inútil amadurecimento de te amar. Endureceu o olhar e as surpresas escassas, quase desaparecem feito fumaça. O medo de caminhar devagar e morrer num lugar ainda escuro sem saber como era a luz que via no fim do túnel, atormenta um coração hoje inseguro e cinza. Dentro dessa casca existe mar, tempestade, gritos e não esses sussurros, aos quais me agarro fincando unhas e dentes para não me desprender, não me distanciar. O tempo me ensinou a dar tempo ao tempo e de tempo em tempo só me resta o tempo e nada mais. Eu já experimentei caminhar com pés, com os olhos, com a mente e com o coração. Todas as vezes segui a mesma direção e estava na frente, a postos para encarar o que surgisse, quebrando barreiras e construindo pontes. Hoje estou atrás, mas não que tenha alguém ou algo na minha frente, estou atrás de mim, regredindo em passos longos e lentos, voltando às origens para compreender porque me permiti ir tão além e questionando porque nunca chego á luz.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Ator

Eu podia ter um milhão de filhos
eu podia ser artista,
palhaço ou equilibrista.
Eu podia viver de lembranças
e voltar a ser criança.

Eu podia ser natureza,
beber a água do mar
me salgar e morrer,
feliz.

Eu podia não ser quem sou
fingir e me destruir.
Eu podia desistir de ser
o que de fato sou
e morrer na infelicidade.

Eu podia ser uma pedra
e de tão pedra,
não sair do lugar.
Eu podia não ser de carne nem osso
e me manter calada e seca.

Eu podia murchar,
eu podia secar,
eu podia aguar, azedar

e salgar a doçura de um coração
mas eu preferi chorar os males,
sorrir os dias,
tocar a pele,
ser.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Onde

Há um invisível que circula entre nós. Não está escondido, ele é apenas invisível. Entre as nossas palavras, os nossos medos e pensamentos mais profundos, ele passa por nós. Quando falo ou penso, sinto que ele está por perto como alguém que gosta de observar e sabe de muito mais, justamente por isso.
A sensação me persegue mas sei que o invisível não é o que sinto, ele é espectador da minha vida e acredito até que de muita gente. Não é Deus, porque não interfere em situação alguma, nem ao menos me induzindo, mas ele está _ _ _ _

Ele vê tudo. Eu sei! Me perco nos segundos, minutos e me pego paralisada procurando o _ _ _ o que eu não vejo. Caminho pela vida entre pausas e paralelos. Viver e procurar. Mas quem? o que?
O invisível sou eu.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Sonhei que eu ganhava um daqueles brinquedos: um palhaço saindo de dentro de uma caixa e que nele estava escrito, "hoje eu te amo". A frase ficou na minha cabeça.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009



 
Feito poesia
eu te amei
naquele dia quente
eu te entreguei
todo o meu pranto,
suspiro e tanto
que eu nem sei.

Foi o meu amor
dizendo o quanto viria a ser,
anunciando a história
cortejando a hora
flertando a volta
do amor em mim.

Declaro-me entrengue ao vento

vontade de ser teu,
Amor.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Dentro de mim algo gritou calado e quieto. E eu escutei.

    

Existe um oceano de coisas que preciso me livrar. Uma bagunça que preciso compartilhar. Despejar isso vai ser um alívio e ao mesmo tempo será perder um pouco de mim, dentre os resíduos do que faz pesar meus ombros. E ainda a cobrança de dar o que é bom em mim, me sufoca! Tira o ar puro que eu respiro com esforço. Amar a mim significa carregar um oceano, o meu.
É perigoso livrar-se do peso, já me acostumei a me equilibrar, com dores nas costas, a força contrária ao chão que deforma o meu andar. As pessoas costumam pensar, num primeiro olhar, que isso sou eu. E sou. Foi uma construção e ao longo do tempo adquiri alguns parasitas que agora me torturam impedindo que eu prossiga como sempre fiz. Agora, é hora de livrar-me do excesso de modo que continuarei a ser eu mesma, já que o livrar-me faz parte do processo da construção de mim.
Recriando-me, eu posso me dar e permitir que eu também receba, mas no momento me encontro em excesso. Grito muito, reclamo demais e isso tudo, eu sei, é um sinal mental mas também físico. O excesso não sou eu. Mas...sempre serei um oceano além da conta. O dia que eu estiver na medida, não terei muito a oferecer, serei pouca logo deixarei de ser oceano.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Mão dupla




Aumento som e o mundo começa a tocar.
Escuto as mães falando de pele de bebê e tantas coisas mais,
percorro ruas e os sinais de estresse soam buzinas de fundo.
Quanto mais som mais cores
Vejo crianças sem lugar procurando algum para ficar,
do outro lado o som das chaves de um calhambeque anos 90
iluminando a todos com a sua brilhantina.
“O cara” é tão diferente da criança.
Em algum lugar eles se cruzam
na trilha de um estrondo surdo
que eu não pude escutar
mas senti, cada nota
suja de lama limpa e sola velha
de um velho que não se satisfaz.
Mais, mais e mais...
Quero desligar o mundo mas não posso,
Quero abaixar o som mas já virou verdade.
Não basta ver o mar pelo quadrado de segurança,
ali dentro eu posso me salvar,
talvez.
Vou indo de volta ao sol,
de volta à água,
de volta pra casa.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Achados e perdidos



Eu quero estar onde os ventos florecem flores
E o triste é um sim ao meu riso.
Com graça pronta não quero ficar
Servir ao borrão de cores eu escolho.
O preto e branco são fases e apelos,
De um coração que não vê cor em ser de vidro cheio.
Eu não conto a ninguém.
porquee vou descobrir no fim disso tudo
Que não sei dizer,
E eu só quero estar no sonho que inventei
Pode dizer, “impossível!”
Mas eu já provei e agora não tem volta
Grita que eu aguento,
Fala que eu não te corto
Eu preciso disso
Pra ver quem eu sou
Sem capa nem máscara
Não sou e nem quero ser
O pintado que você forjou
Deixa quieto que não vai fazer mal
Só a mim
Eu que vou saber
Olhos meus
Tinta e quadros
Isso é ilusão meu bem,
É o lugar dos achados e perdidos

domingo, 29 de novembro de 2009

Tanto


Quer achar o que quer achar
tá bom.

Tá tudo certo.
Faz de conta que tanto faz
e as vezes tanto faz mesmo.

Não dá nada de menos
e no fim das contas não sobra nada de mais.

Cheia de ar para encher os pequenos pulmões infantis,
suspiros de uma aprendiz,

eu te disse tanto faz
mas você sabe a verdade.

A verdade é que sou a mais
o que menos você poderia imaginar.

Não me cria em imagem falsa
é só clarear
você me verá.

Por isso,
depois disso feito
eu te direi tanto faz.
tanto, tanto,
faz tanto
de mais ou de menos
tanto faz
o tanto que eu sou e quero.

2° temporada


(As prostitutas. Representadas por: Mayara Almeida, Camila Hadge, Úrsula Simas e Luisa)


Após participar da primeira temporada no Teatro Clara Nunes, o espetáculo de Domingos Oliveira segue realizando algumas apresentações especiais. Com o elenco reformulado, devido à indisponibilidade de alguns para continuar, nós que seguimos nessa segunda temporada sentimos muita falta dos que não permaneceram,  mas com um aperto no peito caminhamos em frente. E como diria Luiz Magnelli "pra cima deles!".

Depois das duas apresentações especiais no Senai- Jacarpaguá pelo Circuito Cultural do Sesi, o espetáculo "Os melhores Anos das Nossas Vidas" segue com outras apresentações marcadas em diversos lugares do Rio.
Para maiores informações, visite o blog da peça  http://teatroosmelhoresanosdasnossasvidas.blogspot.com/

sexta-feira, 27 de novembro de 2009




Sei que serei engolida pela angústia, pela sombra do espaço que "gentilmente" me abrigará, já que está acostumado a lidar com pessoas como eu. Mas eu te digo que acredito ser possível viver dos ventos, brisas, ventanias, não está sentindo? Contemplar e ser contemplada. Eis meu destino, pequeno devaneio. Um chão de madeira, cadeiras acolchoadas, cortinas longas quase infinitas, gritos e sussurros aplausos e vaias.



segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Assim



Me diz,
o que eu posso fazer para o teu sorriso
voltar a ser o céu que eu quero,
que me ilumina e me faz tão bem.

Faz um carinho um aconchego
que esse meu desespero
é só de imaginar
a falta que faz o seu inteiro
completando meu vazio que me faz....

assim, sem vontade de mim,
sem beleza em sorrir,
amarelo...
de tanto que quero o teu sim.

Me diz,
onde é que você vai
que eu posso inventar a coragem,
derrubar meus anseios
por medo de amar...

Quem sabe isso pode mudar o seu caminho
sumindo de mim
deixando rastro
com perfume de saudade

domingo, 8 de novembro de 2009

Aqui dentro


Os olhos cansados dizem que o suspiro pesado é a mesma coisa que subir ao topo do precipício. Fim da linha. E nenhum suspiro merece do outro atenção. Não era surpreendente.
Decidir ver a vida a dois pés, um passo outro passo...é difícil quando se está acostumado com o ritmo que fazem os quatro mesmo que desordenados e desarmonicos.
Estar só não é uma questão de não ter ninguém, é uma questão de ser esquecido, ou não ser lembrado ou de não ter um olhar. Olhar não é direcionar o globo ocular é o cruzar de olhos que, demorado ou não, diz mais do que qualquer palavra e não te deixa esquecer da imagem que viu e do que sentiu.
Sentir, sentir é isso. é isso! Não posso te mostrar nem definir com certeza e exatidão. É o que está aqui dentro, pulsando, fervendo, amando.


terça-feira, 3 de novembro de 2009

Roleta

...e a mão do tempo vai girando a roleta
do que sei de antes não posso
mas fazer do destino o que eu bem entender.

O que hoje me diz,
são os versos que soltei
em versos cheios de rima
da infância levei.

Faz um tempo que lava e enxuga as histórias
e o que era virgem sobrou um bocado de amor
ainda ontem lembrava do meu esplendor,

só que a roleta que gira faz do agora um pulo
para aquilo que chamamos de futuro,
que eu espero e não sei
se vai ser como sou ou como eu serei...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Um mergulho cego





Ao mesmo tempo que o sim ecoou como batida de samba no coração, os olhos pontuais e misteriosos embaçaram de medo. Foi por sentir-me viva, que gingando como capoeira, joguei conforme o samba que soava dentro do meu coração e resolvi mesmo sem conseguir enxergar com clareza, seguir em frente e embarcar no túnel do tempo. Horas sem entender. E buscando acalento me perdi em palavras, imaginação, criação de um mundo que eu não vivi. Os tais anos 50, eram como um moço elegante, cheio de benfeitorias e histórias pra contar. As vezes num terno, as vezes num smoking elegante e noutras em um traje praiano desfilando pelas calçadas de Copacabana. Um vestuário um tanto estranho para mim.
Quando uma luz ameaçava surgir, percebia que alguém num gesto confuso a apagava equivocadamente. Mas a beleza do moço combinava perfeitamente com meu o samba. E como o show não pode parar, fui segurando de mãos em mãos desconhecidas e afáveis. Elas guiaram meus olhos, a imagem foi ganhando forma pouco a pouco, com soluços na bateria e um grito de guerra no refrão do samba-enredo criado sob um verdadeiro carnaval de sonhos, o que eu vi com o peso da certeza, foram rostos iluminados de rosa, vermelho, azul...Olhos que brilhavam e falavam. Me diziam, que bom que segurei tua mão e você segurou a minha, porque cada momento de dor, dúvidas sem resposta, cada momento de cansaço e por vezes que a única vontade era de gritar o grito mais surdo que todos pudessem escutar, foi para que no final cada sentimento se entrelaçasse e se misturasse tornando-se um só.


Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza       (Vinícios de Moraes)








Fim.