terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Está escrito

Algumas pessoas acham Felícia quieta demais, pouco fala, mas se indagada demonstra estar inteiramente prestando atenção no assunto. Outras pessoas dizem que Felícia as vezes deveria guardar certos pensamentos para si ou talvez reduzir, enxugar mesmo o que for dizer. Como aqui ela nasceu, no mundo, a tal “cartilha” social é levada em consideração toda vez que se pega pensando duas vezes em tomar atitude em relação a alguém, geralmente em situação e com pessoa que realmente lhe importa. Só que isso tudo fica confuso pra ela saber qual a devida maneira, a mais prudente, a mais elegante, a menos lancinante de agir, o que significa saber o que falar ao outro. É um engole sapo, um engasga daqui outro dali e quando vai ver está vomitando da pior forma ou se calando quando deveria despejar e se esvaziar. Felícia, que é escritora e adora ler, passa muito tempo com as palavras e já chegou a achar que elas são muito melhores do que pessoas, talvez totalmente melhores, se não fosse para as pessoas que as palavras foram feitas, além de terem sido criadas pelas próprias. Ela pensa até numa revolução da comunicação, numa renúncia as palavras, mas se deu conta que a única forma que lhe basta para dizer tudo sobre esse disse me disse sobre, sobre como ela é e o que é certo expressar ou não, é com as palavras e pensou com ela mesma: ao menos posso escrever e poupar do esforço da boca e dos ouvidos.

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