quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O pensamento e o cone


Tropeçou nos cones que cercavam a areia delimitando o espaço. Estava tão distraída admirando aqueles garotos de pernas ligeiras que nem pôde ver a praia demarcada por faixas e cones laranja e branco

– Ei! Cuidado aí... Gritou um moleque de uns doze anos. Sem perceber, ela havia derrubado um dos cones. Os meninos faziam aqueles movimentos de zigue e zague com a bola que o olhar de qualquer um se deixa hipnotizar. Pôs o cone de volta no lugar e resolveu terminar a sua caminhada por ali. Ainda pôde escutar o menino resmungar, “mulher louca”, mas não deu bola.

Gostava de caminhar na praia porque lá parecia um lugar infinito, nunca aguentava chegar até o final e isso sempre deixava um gostinho de "quero mais" que ela guardava para o dia seguinte. Mas naquele dia a largura sem fim da areia foi finalizada por aqueles cones que saltaram de repente na sua frente.

Já em casa, enquanto tomava banho para tirar o sal e a areia, buscava um pensamento antigo que já não tinha novidade pra contar. Tomou banho com as lembranças e se secou com possíveis finais felizes. Foi até a cozinha esquentar o almoço. Não tinha vontade e comeu só com a fome. Arrumou o armário como pretexto de se perder em pensamentos - Coisas como arrumar armário facilitam a organização dos pensamentos. Separou umas blusas daqui, outras de lá, tudo na mais perfeita ordem. Suas arrumações com coisas eram cheias de coerência, facilitando encontrá-las quando precisasse. Assim como as roupas, a coerência só pertencia a ela, o que fazia dela a única que entendia seu armário. Lá no fundo avistou uma blusa que não usava mais e naquele momento lembrou novamente do assunto e se agarrou aos últimos fatos na esperança de poder reformular, repensar, mas tudo não saía do lugar.

Repassou as tarefas do dia e entre uma coisa e outra lá estava o mesmo fato, a mesma história. Havia uma coisa pronta e coisa pronta não dá trabalho nem papo. Se sentiu acuada pois nada tinha a pensar mais sobre aquele assunto. Descobriu que o pensamento também tinha fim e que ele era determinado pela lembrança. Andava distraída demais, louca demais para perceber.

2 comentários:

  1. Essa mulher se parece taaanto com a estrela da minha vida. Sobretudo quando ela está distraída, às voltas com os pensamentos que pululam por sua mente.

    Muito bom ler isso aqui. Me trouxe algumas lembranças boas, embora o texto nem seja tãão animado assim.

    Parabéns!!!
    Beijos!!!

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