domingo, 11 de julho de 2010

O único problema é que nascera humana.

Sentou cansada no sofá. Na verdade estava exausta. Aqueles dias não estavam sendo fáceis e completavam-se dois meses de insônia. A graça lhe escapava pelas mãos ao ponto de ficar completamente sem graça quando alguém lhe chamava pelo nome, “Graça!”. Depois da nostalgia, sabia que poderia vir a ironia, aquela graça malandra que todo mundo tem guardado. Não pensou no futuro. Só o presente mal cheiroso é que importava. Quem aguenta sentir mal cheiro mais que alguns minutos?!

Decidiu-se pela loucura e foi por telefone que ela falou. Resolveu aquela situação que não podia mais sustentar, ou cheirar se assim posso dizer. O estranho é que junto com uma leve satisfação selvagem, ao desligar o telefone seus pensamentos continuaram a viver, como se nada tivesse acontecido! Além de louca seria cruel?

Não se levantou, nem buscou ar na janela. Não quis contar a um amigo nem se debulhou em lágrimas. Apenas viveu. Pensou que todos deveriam ser daquele jeito. Depois pensou em chorar, mas a vontade não vinha. Sentiu-se muito mal por não ter aguentado mais um pouco. Por ser tão humana que o maldito cheiro ela não pudera suportar. É a vida. Por falar em vida, o cheiro horrível vinha de um animal morto, contei? E foi só depois que ela descobrira o óbito, que decidiu não sentir mais o tal cheiro.
Agora podia viver.

Um comentário:

  1. Nossa! Que ótimo esse! foi bastante surpreendente em diversas maneiras; diversas!

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