quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Um mergulho cego





Ao mesmo tempo que o sim ecoou como batida de samba no coração, os olhos pontuais e misteriosos embaçaram de medo. Foi por sentir-me viva, que gingando como capoeira, joguei conforme o samba que soava dentro do meu coração e resolvi mesmo sem conseguir enxergar com clareza, seguir em frente e embarcar no túnel do tempo. Horas sem entender. E buscando acalento me perdi em palavras, imaginação, criação de um mundo que eu não vivi. Os tais anos 50, eram como um moço elegante, cheio de benfeitorias e histórias pra contar. As vezes num terno, as vezes num smoking elegante e noutras em um traje praiano desfilando pelas calçadas de Copacabana. Um vestuário um tanto estranho para mim.
Quando uma luz ameaçava surgir, percebia que alguém num gesto confuso a apagava equivocadamente. Mas a beleza do moço combinava perfeitamente com meu o samba. E como o show não pode parar, fui segurando de mãos em mãos desconhecidas e afáveis. Elas guiaram meus olhos, a imagem foi ganhando forma pouco a pouco, com soluços na bateria e um grito de guerra no refrão do samba-enredo criado sob um verdadeiro carnaval de sonhos, o que eu vi com o peso da certeza, foram rostos iluminados de rosa, vermelho, azul...Olhos que brilhavam e falavam. Me diziam, que bom que segurei tua mão e você segurou a minha, porque cada momento de dor, dúvidas sem resposta, cada momento de cansaço e por vezes que a única vontade era de gritar o grito mais surdo que todos pudessem escutar, foi para que no final cada sentimento se entrelaçasse e se misturasse tornando-se um só.


Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza       (Vinícios de Moraes)








Fim. 

Um comentário:

  1. "... que bom que segurei tua mão e você segurou a minha..."

    Realmente, só assim conseguimos nos tornar um só!

    Beijos .."ao futuro"

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