Soube que mulheres gostam de usar bolsas. Houve uma época que elas eram enormes feitas sob medida, a medida do desespero. Marina é da parte que sobrou – as que não gostam de bolsas. Nem pra lá nem pra cá, o bom mesmo é guardar as necessidades no bolso.
Além do sangue e das curvas que marcam, mulheres costumam usar penduricalhos que servem como enfeite ou como acréscimo de si mesmas. Marina gosta de pouco e com o pouco sentia-se bem, bem leve. Olhando nas ruas, muitas vezes chegou perto de se arrepender ao ver que tantas outras, muito parecidas com ela, exibindo suas “bolsa-acréscimo”, pareciam ter encontrado a combinação perfeita. Mas se tão logo observasse mais além, o que fazia de costume, via mulheres que mesmo sem nada pendurar, deixava estampado no rosto que faltava-lhes algo. Figuras que denunciavam seus vícios e sua pouca independência nesse mundo contemporâneo. A verdade é que o mundo continua sendo mundo e mulher continua sendo mulher. Esses corpos viciados, andavam tristes pelas ruas e por vezes esbarravam no de Marina, representante de uma pequena porcentagem feminina. Leve como quem voa e como quem não tem e não quer ter nada acrescentado em si. Ela gostava do rascunho e não via graça no desenho pronto, pintado. Achava que um quadro pronto determina o fim da linha. Se alguém imparcial – alguém que não é gente e não existe, pois a imparcialidade é o gosto da ilusão, visse com seus olhos de imaginação essas mulheres que caminham pela cidade com abstinência de bolsa, e outras, apenas algumas, que caminham leves apreciando seus próprios ombros nus, o peso cru de seus corpos, este poderia se confundir.
Marina continuava mulher e ainda gostava de caminhar leve, mas passou a ficar intrigada com a denúncia dos corpos. Sentia que olhando as mulheres, tão femininas quanto ela, podia quase que adivinhar seus nomes secretos. Os traços, pintados ou crus, diziam mais do que gostariam. Tudo escapa do corpo e disfarça-se quase tudo com palavras. Dias se passaram e numa noite dessas, calada, ereta na cama, Marina orgulhou-se de não precisar de bolsas e de ser feliz caminhando com pouco. Naquele instante, lembrou de Orlando, não o tinha mais, somente as lembranças que levava consigo por onde quer que fosse.
Gostaria de ver você escrevendo algo que não fosse tão descaradamente você. O engraçado é que por mais que eu veja você nas entrelinhas eu acho que muito pouco sei sobre essa sua visão da vida. Me intriga pensar nessa pequena porcentagem...
ResponderExcluirMarina é a essencia ddas pessoas que buscam sempre mais. Ela é a expressão do querer. Pessoas assim geralmente sofrem, pois o "normal" do mundo é o conformismo, é o "já tá bom".
ResponderExcluirParabéns, mais uma vez, moça!