Nota prévia
O texto a seguir nada tem a ver com romantismos. A insensatez é o melhor sentimento para andar na corda bamba. Não se engane.
Gastou mais um pouco da borrada no caderno. Apagava “amo” escrito com tanto desamor. O pensamento fugia das linhas que insistiam em querer ser carta de amor. Lá estava ela, longe...
- nunca vi uma borracha acabar, parece que duram para sempre, mas sempre compro outra. Voltou para o papel, nada saía. Já batia uma agonia. Passava os minutos, dor de cabeça, língua amarga do café.
Tinha marcado um cinema com ele, era um dia especial, aniversário de namoro – quanta coisa inventam. Os próprios assinaram o contrato que ditava o dia, mas como sempre, não leram se quer uma cláusula. Optou por pegar emprestado um poema rasgado de Neruda que parecia muito com verdade, quando raros momentos distraída passava o coração do frio ao fogo. Transcreveu o poema naquele papel triste, esfolado de tanto apaga-escreve. Aliviada por ter conseguido cumprir a “tarefa”, imaginava que bom ter lembrado de “Não te quero senão porque te quero”. Caíra como uma luva a qual estapearia a cara do sujeito.
Mas ainda tinha de escolher a roupa, como quem vai ao enterro e não quer parecer nostálgica. Nada lhe vestia bem, nem mesmo um sorriso sugerido pela mãe, espectadora do dia de horror, torpor, como quiser pôr.
– mas não vou pôr mais nada! Não vou e ponto. Chorou pelo morto, chorou pelo traje inevitavelmente nostálgico, sua expressão, chorou porque iria ao cinema com ele? Secou as lágrimas que borravam nada além de tentativas de sorrisos tortos, pois maquiagem seria exagero.
Borracha novinha, cor verde fosforescente, linda. Só usou para apagar um borrãozinho feito sem querer.
- será que essa eu vou conseguir ver o “para sempre”?
começar de novo dá sempre esse receio.
ResponderExcluirque bonita analogia...
ResponderExcluirde início realmente achei que era um texto romantico, logo pelo meio entendi melhor e continuei, mas no fim só vejo em ti esse amor que diz que não...
Não.
ResponderExcluir